quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Memórias da minha infância

Inês Maria
A minha casa antiga é o palco da minha infância. Quando fecho os olhos, perco-me na imensidão nítida que ainda são as minhas memórias. A maior parte delas começa no jardim grande, cheio de flores e árvores de vários tipos, em que, na parte sul, se encontrava o meu baloiço, construído pelo meu avô, após o meu quinto aniversário.
A lembrança mais viva é a de observar o seu rosto moreno ao sol, enquanto me empurrava num ritmado balancé, que hoje me faz lembrar o passar dos anos. A sua música ainda me ecoa na cabeça como se a tivesse ouvido todos os dias, depois de ele ter morrido. São notas longas e suaves. O seu piano reinava na casa. Não havia direito a ouvir a voz dos desenhos animados, só as belas composições do avô Germano. Nem valia a pena protestar!
Até aos meus sete anos cresci a ouvir a sua música e só eu sei do que mais tenho saudades: dos dois, do avô e do seu piano, porque juntos eram um só. Estavam conectados de tal forma que ninguém conseguia quebrar a ligação. E, quando tocava, imaginava-o dentro de uma fina bolha de ar, na qual ninguém entrava. Só ele existia.
Claro que ele me ensinou a tocar, mas, depois de ir embora, já nenhuma tecla soa como aquelas da minha infância.

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